Carpintarias de São Lázaro

Rua de São Lázaro 72, 1150-199 Lisboa
5ª a dom. - 12:00 > 18:00

29/09 - 29/10/2023

 

Corinne Mariaud :: Eui-Jip Hwang :: Katerina Tsakiri :: Nuno Andrade :: Pedro Gomes Almeida

CORINNE MARIAUD

AQUI DRAGÕES A série Aqui Dragões destaca pessoas que intervêm no próprio corpo, desconstruindo-o, reconstruindo-o, transformando-o e desempenhando-o. Alguns fazem do seu corpo uma bandeira, emblema das suas lutas. Usam-no para afirmar a sua identidade, mas também para transformar a sociedade. Faço retratos de pessoas que não se reconhecem nas categorias masculina nem feminina e que se identificam como não-binárias, e pessoas em transição de género, particularmente FtM*. Alguns homens trans optam por remover cirurgicamente os seios antes de tomar testosterona. Outros enfaixam o peito para os ocultar, outros ainda tomam testosterona sem recorrer a mastectomia. Eles ilustram as múltiplas possibilidades. Este espaço de transição é uma viagem através de identidades. Estas pessoas encontram-se em plena mudança, fora de qualquer território, migrantes em relação à sua identidade de origem. Ao posar em tronco nu, expondo os seus corpos desconstruídos, reconstruídos, afirmam a sua presença. A sua abordagem é política, revoluciona as regras da sociedade, são "dissidentes do regime de diferença sexual", afirma Paul B. Preciado, para quem homens e mulheres são construções ideológicas e sociais, "ficções políticas". Levantam a questão do reconhecimento das identidades, das escolhas individuais e da liberdade total em relação ao próprio corpo. As redes sociais permitem às pessoas trans e não-binárias de todo o mundo comunicar umas com as outras e apoiar-se mutuamente, e assim criar novos territórios. *Hic sunt dracones, “Aqui dragões”, fala de territórios inexplorados, numa referência à prática medieval de ilustrar as áreas desconhecidas dos mapas com desenhos de dragões ou outras criaturas mitológicas.

Eui-Jip Hwang

PT - catálogo 2017

“Live your dream” explora a renovação da identidade coreana da Coreia do sul, que foi reformada pela produção massiva da sua crescente cultura popular. A modernização da cultura tem evidenciado a aparência como a prioridade máxima, modelada pela publicidade (ilusões da perfeição; uma forma de propaganda) e pela influência dos padrões de beleza eurocêntricos. Sem uma alteração de aparência através de cirurgia plástica ou uma aplicação de cosméticos, a sociedade coletiva concorda que o indivíduo não é produto da Coreia moderna. Construindo foto colagens digitalmente manipuladas pelo uso de arquivos de imagens do antes e depois, anúncios de beleza, e guias sobre cuidados masculinos, o projeto define a identidade coreana da atualidade para além do género e sexualidade.

Katerina Tsakiri

PT - catálogo 2018

“A simple place” (2016-2018)

A série “A simple place” consiste em 12 autorretratos fotográficos. É sobre as reencenações do indivíduo e do espaço, baseadas na simplicidade encenada e cenográfica, como também na obsessão pela repetição. A série valoriza esses elementos numa tentativa de examinar/abordar o dipolo simplicidade-multiplicidade do indivíduo, através da atmosfera de antecipação onde tudo muda e ao mesmo tempo permanece igual. “Nada alguma vez mudou desde que eu estive aqui. Mas eu não ouso por isso inferir que nada alguma vez mudará.” Samuel Beckett, The Unamable.

NUNO ANDRADE

Ginjal 

"Floresta do Ginjal" foi o restaurante mais famoso do cais do Ginjal, em Cacilhas. Desde que abriu, na década de 30, tornou-se palco de encontro das duas margens do Tejo, escolha incontornável para inúmeros almoços, festas e casamentos.

Sete décadas depois encerra as suas portas e não mais as abriu. Cumpriu o seu ciclo.

O antigo espaço renasceu posteriormente sob a forma de sala de bailes. Transformou-se num lugar mágico e misterioso, povoado por personagens fascinantes: amantes, sonhadores, solitários, eternos conquistadores... Todos partilhando um tempo que só ali existe. 

Vidas reais com desejos simples, ambições comuns. Enganar a solidão, encontrar o amor.

PEDRO GOMES ALMEIDA

ENTRE AS MARGENS DO SER

Designa-se por «trans» uma pessoa que abandonou a identidade que lhe foi atribuída pela identidade que lhe é própria, num processo designado transição de género. A transição implica muitas vezes a adaptação do corpo para que a identidade de género e corporal coincidam, definindo novos territórios, corpos na fronteira entre o masculino e o feminino. 

Tal como a transição cria relevos no corpo, também o território e a paisagem são mutáveis – numa escala de tempo superior. A partir deste princípio, pesquisei no território estados simbólicos que me ligassem à ideia de transição e aos pressupostos transmitidos nos diálogos e escritos das pessoas que retratei. 

Percorri ambientes de fronteira, onde tudo é modificado: a ocupação, o geológico, o orográfico, tal como o relevo do corpo é mudado com a transição.

Este trabalho foi desenvolvido no âmbito da Masterclass Narrativa 2021.

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