Carpintarias de São Lázaro

Rua de São Lázaro 72, 1150-199 Lisboa

Quinta a domingo: 12:00-18:00

06/10 - 06/11/2022

Inauguração: 06/11 22:00 - 00:00

 

Filippo Zambon, “Into the bin”

Flávio Andrade, “Isolation”

Hannah Kozak, “He Threw the Last Punch Too Hard”

Smita Sharma, “Domestic Servitude trafficking in India”

Tariq Zaidi, “Sin Salida”

Vlad Sokin, “Crying Meri”

©Filippo Zambon

Filippo Zambon
Para o lixo

Sinopse

“Para o lixo” é um projeto acerca de desperdício de comida.

Este trabalho é uma tentativa de criticar a atitude consumista de uma parte da sociedade, e a mentalidade mercantilista e orientada para o lucro.

As fotografias mostram o conteúdo real, intocado dos caixotes do lixo dos supermercados, fotografados à noite, depois das lojas fecharem. As imagens retratam o desperdício alimentar como uma bela natureza morta, contrastando esteticamente com a política de descartar imediatamente os itens cujo prazo está prestes a expirar. A maior parte dos alimentos descartados são ainda perfeitamente comestíveis. Nem aos empregados da loja é permitido levar os alimentos para casa. 

Na Finlândia, o mergulho em lixeiras tornou-se uma prática popular, entre pessoas de diversos meios. O que começou por ser uma prática comum entre os estudantes e os desempregados, atrai agora pessoas com outras motivações que não poupar dinheiro. O mergulho em lixeiras tornou-se para muitos uma forma de ativismo contra a mentalidade materialista que está na base do sistema de mercado consumista.

O desperdício alimentar, além de ser de várias maneiras um problema ambiental, é antes de mais um problema ético. O desperdício alimentar representa a nossa necessidade incontrolável de consumo, a nossa indiferença ao desperdício, e a nossa falta de interesse em partilhar.

As fotografias foram tiradas nos invernos de 2014 a 2016 nos contentores do lixo dos supermercados nos arredores de Helsínquia.

 


Bio

Filippo Zambon - nascido em Florença, estudou História da Arte na Universidade de Florença. Depois de trabalhar como assistente para um fotógrafo de guerra, mudou-se para Helsínquia onde, em 2014, obteve um diploma de Mestrado em Belas Artes com componente principal Fotografia na Universidade de Arte de Helsínquia. O seu trabalho já foi exposto em galerias e museus na Europa e publicado em revistas de fotografia em todo o mundo. Os seus trabalhos fazem parte de coleções tais como a da Hasselblad Foundation em Gotemburgo, Finnish Photography Museum, Tuscany Photographic Archive, Paulo Foundation em Helsínquia, bem como de coleções privadas na Europa.

A sua primeira monografia “The Komi diary” (“O Diário de Komi”), publicada pela Lecturis, foi eleita livro de fotografia do ano na Finlândia. O seu segundo livro “Short Cut” foi publicado em 2021.

Atualmente, trabalha como artista fotográfico e professor de fotografia em várias instituições.

©Flávio Andrade

Flávio Andrade

Isolation

 

Sinopse

Isolation é inspirado na realidade sobre o estado de emergência que levou ao confinamento imposto pelo Governo Português face à situação excepcional de saúde pública mundial e à proliferação de casos registados de contágio de COVID-19 decretado em 18 de Março de 2020 pelo Presidente da República. 

Após a releitura de A Era do Vazio, de Gilles Lipovetsky, reflecti sobre a sociedade individualista dos anos setenta do século XX, de que Lipovetsky descreve e a forma como vivemos e pensamos neste século XXI. Esse lugar narcisista e egocentrista onde o eu é o lugar comum e que, parece ter-se intensificado ao longo dos anos; aprisionados, em nós próprios, sem podermos fazer o que desejamos, como se estivessemos numa cela, condicionados; sem a liberdade de circular, conviver, viajar e partilhar ao vivo e em tempo real. Senti uma certa resignação, do que somos, queremos e fazemos. Onde está o lugar do outro? Da partilha, da solidariedade? Vivemos vidas paralelas - Aquela que pensamos e aquela que nos é possível ser. Potenciados pelo confinamento, numa vivência superficial e virtual, em muitos casos, o isolamento obriga-nos a experimentar os nossos limites físicos e psicológicos, obrigando-nos a pensar sobre a existência e as incertezas do amanhã. Isto leva-nos para determinados sentimentos e comportamentos, aqui recriados fotográficamente, em auto retrato. 

Isolation, veio a revelar-se uma surpresa, pela possibilidade de, mesmo confinado a quatro paredes, existir uma libertação emocional que ultrapassou a barreira física. Estas fotografias são a minha visão, do que eu sinto, do que outros sentem e, ou, sentiram, nestes momentos que todos vivenciamos.

Bio

Flávio Andrade (n. 1964) fotógrafo e artista visual, nasceu e reside em Portugal. Publicou cinco livros até ao momento, Isolation (2021), Nubes (2018), Vago (2017), Déjà vú (2017) e Circle of life (2017). As suas obras fazem parte de colecções públicas e privadas; expõe regularmente desde os anos noventa. No ano de dois mil e dezassete criou a editora FlankusBooks. Estudou comunicação social no ESE, fotografia no Ar.co, no Cenjor e mais recentemente o curso “Seeing Through Photographs” no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque. Foi professor de fotografia durante dez anos (2003-2013) na Universidade Católica Portuguesa onde co-leccionou a disciplina de teoria e prática da fotografia. É formador de fotografia analógica, digital e fotojornalismo.

©Hannah Kozak

Hannah kozak

Ele deu o último murro com demasiada força

 

Sinopse

    "Comecei a fotografar a minha mãe em Dezembro de 2009 para processar os meus sentimentos em relação a uma mãe que nunca conheci de verdade. Durante esse processo aprendi a amá-la e daí nasceu este projeto, Ele deu o último murro com demasiada força. Recebi o prémio inaugural FotoEvidence W Award em 2019 e depois de uma campanha bem-sucedida no Kickstarter, criei o livro. 

Hoje em dia, a minha mãe é a minha musa, mas a nossa relação nem sempre foi assim tão simples.

                              …

    Quando eu tinha 9 anos, a minha mãe deixou a nossa família quando se apaixonou por outro homem. O homem pelo qual ela nos deixou era violento: batia-lhe tanto que ela acabou por sofrer uma lesão cerebral permanente. Aos 41 anos, a minha mãe teve que mudar-se para um lar e é aí que tem vivido nos últimos 42 anos.

        Recordo a minha mãe como uma bela e intensa Sophia Loren guatemalteca. Mas depois de ela nos deixar, senti um abandono e uma raiva tremendos. O comportamento dela levou-me a julgá-la impetuosa, egoísta e negligente. E no entanto, cada vez que a via, a tristeza tomava conta de mim. Ver a sua mão direita encaracolar devido à lesão cerebral provocava mais emoção do que eu podia aguentar. Então, para me tentar distanciar da dor, eu praticamente ignorava-a. 

        Mas a dor ignorada não desaparece. Quando estava a trabalhar como duplo, parti ambos os pés ao saltar de um helicóptero para o edifício mais alto de L.A.  O tempo que passei em recuperação tornou-me mais meditativa, e decidi voltar a estudar. Felizmente, através do trabalho de curso em Psicologia Espiritual, consegui dissolver os meus julgamentos sobre a minha mãe e começar a criar uma nova relação com ela.  

Não precisei de viajar pelo mundo fora para aprofundar o meu lado espiritual. A minha melhor professora estava à minha frente o tempo todo. A minha mãe perdoou-me por não a ter visitado todas aquelas décadas. Eu perdoei-a por ter deixado a nossa família. Já não sinto pena da minha mãe. Ela inspira-me em permanência, ensinando-me a viver pelo coração, não pela cabeça. 

    A minha mãe é um símbolo de perseverança. Mesmo tendo sofrido uma invalidez permanente devido à violência doméstica, nunca perdeu a bondade, a esperança, ou a crença no amor.  À medida que o seu corpo se deteriora, a sua alma floresce. Ela recusa ser objeto de piedade.

Estas fotos contam a história da minha mãe, uma história de solidão, violência, conexão, compaixão, perdão, benevolência, e sobretudo, amor. Ao início, não planeava mostrá-las, mas aprendi que partilhar a nossa história ajuda os outros a encontrar o seu caminho para a recuperação. Possam estas fotos inspirar outrem a deixar uma relação  abusiva antes que seja tarde demais."

 


Bio

Hannah Kozak é filha de pai polaco e mãe guatemalteca, e nasceu em Los Angeles, na Califórnia. Aos dez anos de idade, o pai, Sol, sobrevivente de oito campos de trabalhos forçados nazis, ofereceu-lhe uma câmara Kodak Brownie, e ela começou instintivamente a capturar imagens de cães, flores, família e amigos, da forma que lhe parecia mais honesta e autêntica. Aos 20 anos, enquanto trabalhava numa loja de aparelhos fotográficos, a vida de Hannah mudou quando ela conheceu uma mulher chamada Victoria Vanderkloot, que trabalhava como duplo e se tornou sua mentora e a ajudou a começar uma carreira como duplo. Hannah voltou a câmara para si própria, para a sua vida e para o seu mundo.  Continua a procurar o que lhe parece mais honesto e autêntico, usando a câmara como um meio para explorar sentimentos e emoções. Após décadas a ser substituto de um outro, sente-se agora em controle da sua visão e do seu destino. 

Hannah cria retratos psicológicos e autobiográficos. Os seus temas são as pessoas e os lugares que a tocaram emocionalmente. Há quase cinco décadas que fotografa pessoas e lugares. A fotografia tem o poder de curar e ajudar durante períodos difíceis, algo que Hannah Kozak sabe por experiência própria.

“Eu uso a minha câmara como um meio para explorar os meus sentimentos e emoções. As minhas fotografias são adversidades emocionais. Quando alguém me permite fotografá-lo(-la), dá-me algo de si próprio a que eu me posso agarrar para sempre. Em momentos de melancolia, desejo ou solidão, posso senti-los outra vez a partir da relação com as fotos. As minhas fotografias são diretas, autênticas e sem pretensões.”

Instagram: @hannahkozak

Facebook: @facebook.com/hannah.kozak.5/ 

©Smita Sharma

Smita Sharma

Tráfico de Servidão Doméstica na Índia

 

Sinopse

A minha história relata as vidas e a luta daqueles que sobreviveram ao tráfico humano na Índia. As vítimas deste tráfico são sobretudo raparigas, algumas com apenas 9 anos, que são traficadas para servir no trabalho doméstico, muitas vezes sem qualquer tipo de remuneração.

A economia indiana tem crescido rapidamente nos últimos anos. A procura por trabalhadores domésticos baratos tem aumentado, particularmente nas grandes cidades, entre a classe de trabalhadores urbanos, incentivando o tráfico humano para servidão doméstica.

Os empregadores à procura de serviços domésticos contratam os serviços de agências de colocação, muitas vezes ignorando que muitas das raparigas que contratam chegam até às suas casas através dos canais do tráfico de escravos contemporâneo.

Dado que não existem leis ou mecanismos específicos para monitorização destas agências de colocação, o recrutamento ilegal é frequente. Os alvos são raparigas pobres provenientes das comunidades indígenas, que sofrem exclusão e isolamento social. Os traficantes, que se fazem passar por representantes das agências de colocação, vendem-lhes o sonho de um futuro melhor. Os traficantes são frequentemente familiares, vizinhos ou conhecidos. Cobram aos empregadores por um ano de trabalho e ficam com o dinheiro, deixando as raparigas a viver como escravas.

A situação é grave. Centenas de raparigas desaparecem, sem que haja qualquer informação sobre o seu possível paradeiro. A polícia e as autoridades não são grande ajuda no esforço para localizar estas raparigas, e as famílias não podem fazer mais do que esperar, entre o desespero e a esperança de que as suas filhas voltem um dia.

 


Bio

Smita Sharma é uma fotojornalista baseada em Deli, que se foca em questões de género, crimes sexuais e tráfico humano no Sul Global, através de reportagens visuais de longo formato. É bolseira e palestrante TED e bolseira repórter da International Women’s Media Foundation (IWMF). Smita está empenhada na representação digna das pessoas, e as suas imagens viscerais foram já publicadas em vários meios de comunicação, incluindo o New York Times, BBC World, Wall Street Journal, TIME e National Geographic Magazine. O seu trabalho foi exposto em exposições de alcance global, incluindo na sede das Nações Unidas em Nova Iorque. Foi galardoada com prémios da Amnistia Internacional, do Las Fotos Project, One World Media UK, Women Economic Forum e Fetisov Journalism.

©Tariq Zaidi

Tariq Zaidi

Sin Salida (Sem saída)

El Salvador - Uma Nação Refém 2018-2020

 

Sinopse

“Matar, Violar, Controlar'’ é o lema do infame bando Mara Salvatrucha (MS-13). Este bando, junto com o seu rival Barrio 18, é conhecido por toda a América Central e do Norte por ser particularmente violento. 

El Salvador é um país onde estes bandos exercem amplo controle sobre a comunidade e o Estado não tem capacidade de os expulsar. Embora os níveis de violência tenham variado ao longo dos anos, a taxa de homicídio do país está consistentemente entre as mais altas do mundo.

A brutalidade da violência tem chocado a sociedade salvadorenha. Em muitas cidades, é impossível atravessar a rua porque gangues diferentes controlam diferentes partes do território, de modo que certas ruas ou bairros inteiros ficam isolados. Embora as políticas de tolerância zero sejam bem aceites pela população, algumas organizações de defesa dos direitos humanos têm criticado as autoridades por serem demasiado duras. 

As políticas do governo têm tido algum êxito, tendo conseguido baixar a taxa de homicídio de 17 homicídios por dia em 2015 para 2 por dia em Março de 2020. No entanto, no início de 2020 deflagrou uma explosão de violência, com os bandos de rua a assassinarem 76 pessoas em apenas 4 dias, mostrando quão volátil o país ainda é.

O Presidente Nayib Bukele reagiu a este episódio visando membros dos bandos encarcerados, os quais, de acordo com o ex-ministro da Justiça e Segurança, Rogelio Rivas, são responsáveis por ordenar 80 por cento dos ataques no país. 

Até hoje, pelo menos, o medo, a violência e a intimidação continuam a ser parte integral do dia a dia em El Salvador.

Estas imagens constituem evidência fotográfica única da violência que tem assolado a sociedade salvadorenha e são um retrato documental da guerra que o país tem travado contra estes bandos, entre 2018 e 2020. 

Esta série faz parte de um projeto mais amplo que foi publicado pela GOST Books em Outubro de 2021 num livro intitulado “Sin Salida”.



Bio

Tariq Zaidi é um fotógrafo independente. Em 2014, abandonou uma posição de gestão executiva numa empresa de eventos para seguir a sua paixão - capturar a dignidade, a força e a alma das pessoas no seu próprio ambiente. 

Trabalhou em 22 países, sobretudo países em desenvolvimento, espalhados por 4 continentes. O seu trabalho foi exposto em mais de 85 exposições e publicado internacionalmente mais de 1000 vezes em revistas, na Internet ou na televisão em mais de 90 países incluindo no The Guardian, BBC, CNN, National Geographic, Washington Post, Newsweek, Der Spiegel, Stern, El Pais, GEO, Los Angeles Times, Smithsonian Magazine, Chicago Tribune, Sueddeutsche Zeitung, Sydney Morning Herald, Internazionale, VICE, Corriere della Sera, The Independent, The Telegraph e The Times of London entre outros títulos internacionais respeitados.

Zaidi foi galardoado com vários prémios prestigiosos, incluindo Pictures of the Year International (POYi), Prémio Melhor do Fotojornalismo da National Press Photographers Association (NPPA), UNICEF Foto do Ano, Bolsa Marty Forscher Fellowship Fund para Fotografia Humanista (Parsons School of Design), Prémio de Fotografia Internacional e PDN Photo Annual. Em 2020, Tariq ganhou o primeiro lugar na categoria de Fotojornalismo pelo seu trabalho em El Salvador nos prémios da Amnistia Internacional 2020 Media Awards em reconhecimento da sua dedicação ao tema dos direitos humanos.

Zaidi é representado pela Zuma Press (USA), Caters News Agency (UK) e pela Getty Images (UK). É um fotógrafo autodidata com um mestrado no University College London. O seu trabalho foca-se em documentar problemas sociais, desigualdade, tradições e comunidades em risco em todo o mundo.

O seu primeiro livro “Sapeurs: Ladies and Gentlemen of the Congo” (“Sapeurs: Senhoras e Senhores do Congo”) foi publicado em Setembro de 2020. O livro foi selecionado pela Pictures of the Year International como um dos “Livros Fotográficos do Ano” e também pela Vogue como um dos “Melhores Livros de Moda do Ano”. O livro já vai na sua segunda edição.

O seu segundo livro “Sin Salida” (“Sem Saída”) foi publicado pela GOST Books, Reino Unido em Outubro de 2021. Em Março de 2022, o seu trabalho em El Salvador foi reconhecido pela Pictures of the Year International na categoria de "World Understanding Award".



Contactos

Tariq Zaidi

Email: [email protected]

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©Vlad Sokin

Vlad Sokhin

Meri Chorosas

Violência contra Mulheres na Papua Nova Guiné

 

Sinopse

A Papua Nova Guiné é um local perigoso para as mulheres, ou 'meri', como são chamadas em Tok Pisin, a língua local. A violência contra as mulheres é vista como normal. De acordo com estatísticas recentes do Departamento Nacional de Saúde da Papua Nova Guiné, mais de dois terços das mulheres são vítimas de violência física ou sexual. Um terço foi vítima de violação e 17% dos abusos sexuais cometidos envolvem raparigas entre os 13 e os 14 anos. A organização Médicos sem Fronteiras, uma importante ONG médica, afirma que níveis de violência de género equivalentes aos observados na Papua Nova Guiné normalmente só ocorrem em zonas de conflito armado. Uma das maiores ameaças são os Raskol, bandos ou gangues que dominam as favelas em redor das principais cidades, incluindo Port Moresby, a capital. Num dia normal, a maior parte dos crimes cometidos tem por vítima as mulheres dos bairros de lata dos subúrbios de Port Moresby. 

Uma grande percentagem dos homens da Papua Nova Guiné não respeita as ‘meri’ e acha-se no direito de lhes bater, usando frequentemente facas de mato e machados. Muitos acreditam que, tendo pagado um preço pela sua noiva à família dela, são seus proprietários, e têm o direito de as tratar como objetos. Muitos casos de violência doméstica estão relacionados com o álcool. O ciúme também contribui dado que é frequente os homens terem mais do que uma mulher. As mulheres agredidas e rejeitadas são muitas vezes expulsas de casa, tornando-se alvos fáceis para os bandos de Raskol.

A violência relacionada com a feitiçaria é comum na Melanésia. Na Papua Nova Guiné pode assumir formas particularmente brutais. Na região das Terras Altas, em quase todas as províncias, organizam-se caças às bruxas. A crença nas 'sanguma' (bruxas) ou na 'puri-puri' (magia negra) é generalizada, e quando há casos de morte súbita numa aldeia, os residentes acusam frequentemente as mulheres locais, muitas vezes familiares do falecido, de feitiçaria. As acusadas são geralmente torturadas para obter uma confissão e depois executadas ou mutiladas. 

 


Embora a prática seja generalizada e do conhecimento geral, as autoridades não têm implementado nenhum programa destinado a acolher as mulheres acusadas de feitiçaria, nem oferecer apoio às que foram traumatizadas pela experiência. Poucos casos de assassinato por feitiçaria são levados a tribunal e há mesmo casos conhecidos onde os próprios agentes das forças da ordem participam em caças às bruxas. 

Em 2013, o governo da Papua Nova Guiné revogou a controversa 'Lei da Feitiçaria' e a violência relacionada com acusações de feitiçaria passou a ser um crime punido por lei. Apesar desta alteração legislativa, o número de casos deste tipo de crime parece continuar a aumentar.

Bio

Vlad Sokhin (Rússia/Portugal) é um fotógrafo documentarista premiado, baseado em Libreville, no Gabão. Interessa-se sobretudo por questões ambientais, culturais e de direitos humanos no mundo inteiro, com destaque para áreas devastadas por conflitos ou desastres naturais.

Trabalhou em projetos em suporte fotográfico, vídeo e rádio, tendo colaborado com vários meios de comunicação e ONG internacionais, bem como com as Nações Unidas. O seu trabalho já foi publicado e exposto em todo o mundo, incluindo nos festivais Visa Pour L’Image e Head On Photo e nas publicações National Geographic, International Herald Tribune, Newsweek Japan, BBC World Service, The Guardian, National Geographic Traveler, GEO, ABC, NPR, The Atlantic, Stern, Le Monde, Paris Match, Esquire, Das Magazin, WIRE, Amnesty International, Sydney Morning Herald, Marie Claire, The Global Mail, Público e outros.

Vlad é representado internacionalmente pela Panos Pictures.

 

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