MNAC - Museu Nacional de Arte Contemporânea
Rua Serpa Pinto 4, 1200-444 Lisboa
Terça a sábado: 10:00-13:00 / 14:00-18:00
Domingos: 10:00-14:00 / 15:00-18:00
06/10 - 08/01/2023
Inauguração: 6 Outubro, 19:00 - 20:00
Harri Pälviranta
“Battered”; “Choreography of Violence”; “News Portraits”
Harri Pälviranta
Bio
Harri Pälviranta (Finlândia, 1971) é um artista fotográfico e investigador. Doutorado em Fotografia pela Aalto University School of Arts: Design and Architecture, em Helsínquia (2012) e mestre em Media Studies pela Universidade de Turku (2005).
Recentemente teve trabalhos integrados em exposições no Fotomuseum Winterthur (Suíça), Museu Benaki em Atenas (Grécia), Kunst Haus Wien (Áustria), Museu da Cidade de Helsinki (Finlândia) e Deichtorhallen, Haus der Photographie (Hamburgo, Alemanha), e exposições individuais na Galeria H2O, em Barcelona (Espanha) e no Museu de Fotografia da Letónia em Riga (Letónia). Em 2007 ganhou o prémio PhotoEspaña Descubrimientos e em 2010 o prémio LeadAwards em Hamburgo. Em 2020, foi premiado com uma bolsa de investigação de quatro anos, pela Fundação Cultural Finlandesa (2020-2023).
Os interesses artísticos de Pälviranta prendem-se com questões relativas à violência e à masculinidade, ambas presentes no seu trabalho. Como Slavoj Žižek, Pälviranta vê a violência como uma prática diversa: pode ser vista como subjetiva e objetiva, e pode assumir formas simbólicas e sistémicas. A sua compreensão da masculinidade também é estratificada: a masculinidade pode ser vista como culturalmente codificada e presente, perpetuando-se no dia-a-dia.
Teoricamente, grande parte de sua obra prática pode ser categorizada como documental. No entanto, no uso de Pälviranta, o documentário não se refere apenas ao documentário clássico, seu trabalho ativa conceitos críticos dentro do discurso pós-documental. Em projectos recentes, ele aproxima-se da metodologia do arquivo e a documentação passa a ser sinónimo e também meio, para produção de imagens.
https://harripalviranta.com/
Harri Pälviranta
Espancados
Sinopse
Brigas, escaramuças e lutas de rua são ocorrências frequentes à noite, durante o fim-de-semana na Finlândia. Há uma tendência forte para ficar alcoolizado em festas e saídas noturnas, e uma vez alcoolizadas, as pessoas libertam-se de certas inibições. As agressões tornam-se físicas, e resultam em violência.
O problema é reconhecido pela sociedade finlandesa, e é considerado grave. Mas o debate não vai além da dimensão literal, faz as parangonas nos jornais e é discutido em seminários. Não há imagens destas ocorrências.
Ao fotografar ataques e agressões, Harri Pälviranta pretende mostrar as faces reais da violência de rua na Finlândia. Em contraste com os retratos estereotipados de heroísmo masculino e tentativas gastas de chocar o público, Pälviranta está interessado em lidar com a extrema banalidade inerente à violência. O que lhe parece mais perturbador que qualquer uma das representações dos golpes e ferimentos é a natureza cotidiana da violência de rua, e a atitude de laissez-faire em relação a ela que predomina na sociedade finlandesa.
Harri Pälviranta
Coreografia de Violência
Sinopse
Durante os últimos vinte anos, Harri Pälviranta tem vindo a colecionar fotografias históricas de imprensa que retratem atos de violência. Muito embora esta coleção de estranhas e terríveis fotografias não constitua um arquivo organizado nem historicamente substanciado, pode ser visto como uma narrativa visual descrevendo como a violência era descrita nos meios de comunicação tradicionais na época da impressão a preto e branco.
A coleção é um ponto de partida para Coreografia de Violência. Pälviranta analisa as fotografias – prestando particular atenção ao modo como a vítima é retratada e como o seu corpo reage ao uso da força – e baseia-se nesta análise para criar novos trabalhos. Assim, a coleção funciona como referência e como matéria. Pälviranta conserva, corta, re-fotografa e re-interpreta as fotografias da coleção.
Esta abordagem multiforme tem por objetivo revelar práticas recorrentes na representação de atos de violência reais. Tendências históricas na fotografia de imprensa podem também marcar a forma contemporânea de ver a violência. A prática de Pälviranta pode ser vista como uma investigação artística. Neste contexto, as imagens articulam não apenas factos mas também emoções, carnalidade, excentricidades, paixões e incertezas. Deste modo, visam provocar uma verossimilhança alternativa à dos relatos escritos convencionais.
Harri Pälviranta
Retratos de Jornal 2010-2014
Estas imagens são os retratos dos autores dos dez piores tiroteios em escolas desde o massacre de Columbine em 1999. Cinco dos autores são dos EUA, dois da Alemanha, dois da Finlândia e um do Brasil.
Os tiroteios em escolas são um fenómeno raro, mas que se repete, e os seus autores têm alguns traços em comum. A investigação mostra que os tiroteios nas escolas são motivados por problemas individuais e não por motivações políticas, e que nunca são atos completamente impulsivos. O atirador, normalmente um jovem estudante ou ex-estudante de uma dada escola, vai sendo progressivamente excluído pelos seus colegas. Muitas vezes, é alvo de bullying na escola. As circunstâncias familiares podem ser normais, mas o jovem sente-se alienado. Há geralmente algum tipo de contrariedade na sua vida pessoal e ele sente-se rejeitado. A sua tentativa final de resgatar a sua posição de macho alpha é cometer um ato tão terrível e de grande escala que lhe dará fama eterna.
O tratamento mediático dado aos tiroteios escolares tem efeitos positivos e negativos. Por um lado, a história dramática pode constituir um ponto de partida para a construção de um mito, fazendo do atirador o ídolo que ele almeja ser, e encorajando comportamentos de imitação e a celebração da violência. Por outro lado, o tratamento da violência nos meios de comunicação pode permitir às pessoas lidar com atos terríveis a uma distância segura.
Como nos recorda Susan Sontag, a fotografia da agonia não só lembra o público das questões explicitamente presentes nas imagens em si mesmas, mas também da existência de uma cultura de violência em geral. Relativamente a considerações éticas, as imagens da violência podem convidar o público "a prestar atenção, a refletir, a aprender e a examinar" não só as imagens em si e a sua estética, mas também a cultura de violência que elas representam e da qual o público faz inevitavelmente parte.
Os retratos dos atiradores americanos são feitos a partir de recortes de fotografias tirados de jornais americanos e notícias da Internet. Do mesmo modo, os retratos dos atiradores finlandeses são construídos a partir de notícias nos meios de comunicação finlandeses, os retratos alemães dos meios de comunicação alemães, e os retratos brasileiros dos media brasileiros. Todos os artigos usados são artigos relacionados com armas ou tiroteios, e cada retrato contém 1050 artigos diferentes. Esta série é portanto inerentemente multilingue e multicultural, apesar da especificidade de cada imagem e ocorrência, aludindo à ligação entre estes jovens através da Internet. Devido às redes sociais, estes atiradores constituem uma espécie de comunidade imaginária com uma cultura comum que este trabalho pretende revelar e compreender.